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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Confusão com morador de rua em restaurante da Zona Sul do Rio gera polêmica na web

Confusão com morador de rua em restaurante da Zona Sul do Rio gera polêmica na web

Fachada do restaurante, em Copacabana, na Zona Sul do Rio
Fachada do restaurante, em Copacabana, na Zona Sul do Rio Foto: Reprodução/Facebook
Luísa Lucciola
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A agressão a uma pessoa em situação de rua em um restaurante na Zona Sul carioca provocou polêmica na internet. A história, relatada no Facebook pelo estudante da Universidade Federal do Rio de Janeiro Thiago Tomazine, de 22 anos, alcançou mais 7 mil compartilhamentos e de 10 mil curtidas em apenas um dia. O dono do restaurante Pigalle, Carlos Alberto Suarez, confirmou a confusão, mas negou que o homem tenha sido agredido.
Segundo Tomazine, ele e um amigo estavam no restaurante, na Avenida Atlântica, em um rodízio de petiscos, quando o morador de rua chamado Clarindo pediu comida a eles e os dois resolveram dar algumas sobras dos alimentos.
— O gerente disse que a gente não podia dar comida para ele, a não ser que pagássemos mais um rodízio, que era uma regra da casa. Mas ele se ofereceu para dar um prato de comida “lá atrás”. Passou um tempo e o morador de rua voltou todo assustado, dizendo que o gerente queria dar porrada nele. Eles começaram a discutir e o gerente pegou ele numa gravata e o jogou no chão — explicou Tomazine.
O post que foi compartilhado mais de 7 mil vezes e teve mais de 11 mil comentários
O post que foi compartilhado mais de 7 mil vezes e teve mais de 11 mil comentários Foto: Reprodução/Facebook
Em seu relato no Facebook, o estudante explica que depois de Clarindo ser solto, eles decidiram pagar seu rodízio. “Mesmo assim ainda continuou sofrendo preconceito. Ele tentou ir ao banheiro e foi barrado. Estávamos sentados na ‘varanda’ e o banheiro ficava na parte de dentro, com ar-condicionado e pessoas ‘ricas’ comendo. Acho que não queriam um negro, pobre e morador de rua ali dentro”. Segundo ele, Clarindo ameaçou agredir o gerente com uma faca, mas voltou atrás. O gerente decidiu, então, chamar a polícia. Quando o policial chegou e constatou que eles iriam pagar a conta do morador de rua e que ele não estava incomodando, não fez nenhum registro e foi embora.
O dono do restaurante explicou que está analisando as imagens das câmeras de segurança e que ainda vai conversar com o gerente, que estava de folga na segunda-feira e trabalha no turno da noite. Segundo Suarez, é possível ver nas imagens que não houve agressão.
— O rapaz de rua estava com a aparência horrível, parecendo até meio drogado. Na filmagem dá pra ver que há uma confusão, mas é mentira, não teve mata leão, dá para ver. Até porque ninguém quis ir à delegacia. Ele se sentiu tão descriminado e não quis ir à delegacia? Por que não? — questiona. — Às vezes, numa situação dessas, uma pessoa vai na mesa do restaurante e rouba o celular de um cliente, até para poder vender depois para comprar drogas. Se você não vai falar, fica parecendo que o lugar é largado.
Tomazine conta que ficou sensibilizado com a ação de Clarindo antes de ir embora.
— Ele cumprimentou o gerente, abraçou ele e disse: “Eu te perdoo” — conta o estudante. — Eu postei a história no Facebook esperando que as pessoas deixassem de comer no restaurante, para dar o troco. Acabou tendo mais repercussão do que eu achava. Estamos pensando até em fazer um protesto ali na frente.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Elite fascista no Brasil queima, envenena, incendeia, mata mendigos a paulada, diz que devem virar farinha de peixe e quer varrê-los da rua

dezembro 8th, 2013 by mariafro

Moradores de rua são alvo de protesto em Florianópolis: “Não precisamos de mendigos: Fora!” Li a notícia dese movimento em Florianópolis que quer varrer os mendigos de Canasvieiras como se fossem lixo. Parei para lembrar de alguns casos que chegaram até a mídia, vejamos:
Assassinos do Pataxó, Galdino dos Santos
Na madrugada de 20 de abril de 1997 Galdino, um pataxó foi queimado vivo por adolescentes de classe média na capital Federal. Durante o julgamento em 2001 os acusados disseram que o objetivo era “dar um susto”, fazer uma “brincadeira”” para que ele se levantasse e corresse atrás deles. Alegaram, ainda, que chegaram a jogar fora na grama parte do álcool adquirido num posto de gasolina, por não ser necessária toda a quantidade comprada para dar o alegado “susto”. Um dos rapazes disse à imprensa que ele e seus amigoshaviam achado que Galdino era um mendigo e que, por isso, haviam decidido perpetrar o ato.
Em maio de 2011 mendigos de Belo Horizonte envenenados com veneno de rato
Em setembro de 2011, uma senhora na paulista exige que a polícia retire morador de rua paraplégico do seu caminho, chamando-o de lixo, macaco, e diante da recusa dos policiais, ela os ofende.
Em Abril deste ano em Minas Gerais, Donato se diverte ‘enforcando’ mendigo em imagem divulgada na sua página pessoal do Facebook. O neonazista é acusado por agressões a negros e gays 

(Print: Facebook)
Abaixo a prisão do meliante:
Também em julho o Fantástico copiando um probrama estadunidense lança a versão tupiniquim com o tema ‘agressão a mendigo
Em outubro deste ano no Rio de Janeiro
‘Mendigo deveria virar ração para peixe’, diz vereador de Piraí, RJ ao defender projeto que proíbe voto a moradores de rua
Por isso, a elite catarinense de Florianópolis querer varrer os mendigos que ela trata sem nenhum eufemismo como “lixo” não deveria nos surpreender. O que indigna é mais uma vez isso cair no vazio, afinal os moradores com ação fascista estão organizados em uma associação, podem ser identificados, portanto, o Ministério Público não faz nada porque não quer.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O CENSO DO BOM SENSO

 Moradores de rua serão remunerados para colaborar com pesquisadores da UFMG Levantamento apontará o perfil e o número de pessoas que vivem sob marquises e viadutos em BH

Juliana Ferreira
Sandra Kiefer
Publicação: 22/10/2013 06:00 Atualização: 22/10/2013 07:33

Pesquisa vai indicar origem da população de rua e orientar políticas públicas específicas (TÚLIO SANTOS/EM/D.A PRESS)
Pesquisa vai indicar origem da população de rua e orientar políticas públicas específicas

Moradores de rua serão remunerados para colaborar com o censo que indicará quantos eles são em Belo Horizonte. A expectativa é que as 19 equipes de recenseadores comecem na segunda quinzena de novembro a aplicar os questionários, que apontarão também o perfil de quem vive em espaços públicos. O trabalho será realizado pela Faculdade de Medicina da UFMG, que venceu o chamamento público, sob a coordenação do professor do Departamento de Psiquiatria Frederico Duarte Garcia. Ontem, em reunião com integrantes do Comitê de Acompanhamento e Monitoramento da Política Municipal para a População em Situação de Rua, o médico definiu os próximos passos do projeto.

O professor reforçou a importância da participação da população de rua nos grupos de trabalho formados por estudantes de nível superior e técnicos da prefeitura. Quem for escolhido vai ajudar na elaboração do questionário e ainda acompanhar os pesquisadores nas entrevistas, o que deve facilitar o acesso aos demais que vivem sob viadutos e outros espaços públicos.

Segundo a coordenadora do comitê, Soraya Romina, os moradores de rua que participarão do censo serão indicados por movimentos que desenvolvem atividades de reinserção, como a Pastoral de Rua. “Alguns são beneficiários do Bolsa-Moradia e têm uma melhor estrutura. Eles indicarão quem tem condição de acompanhar e ajudar nos questionários. Não podemos fazer perguntas que constrangem, por exemplo”, diz. Como será considerado parte da equipe, quem colaborar receberá remuneração da UFMG, cujo valor ainda não foi definido. “A vivência deles é importante para os técnicos saberem como abordar e que tipo de perguntas fazer”, afirma Soraya.

O censo será realizado em apenas cinco dias, de segunda a sexta-feira, das 17h à 1h. Pessoas em abrigos, albergues e centros de referência de saúde também serão abordadas. O tempo curto da pesquisa se deve à migração constante dessa população. O sistema informatizado da UFMG exclui entrevistados que aparecerem duas vezes.

Além de contar os moradores de rua, o censo identificará quem são eles, de onde vêm, por que saíram de casa e o que os trouxe para BH, e ainda mostrar quais serviços públicos eles usam. Os dados permitirão políticas sociais mais eficazes, segundo Soraya. Não há prazo para a divulgação do resultado do censo, mas um relatório preliminar deve sair na segunda quinzena de dezembro.

RECLAMAÇÕES O último censo oficial é de 2005, que apontou 1.164 moradores de rua. Mas a Pastoral de Rua estima que existam pelo menos 2 mil pelas vias da capital. O levantamento mostrou que 40% dos mendigos eram migrantes. Caso isso se repita, Soraya Romina informou que buscará mais apoio no governo do estado, já que a prefeitura arca com 70% das políticas assistenciais.
Segundo ela, ocorreram muitas mudanças desde então, como o surgimento do crack, um dos principais desafios. Estão nas ruas também os egressos de cadeias, pessoas com problemas psiquiátricos e jovens expulsos de casa pelo tráfico de drogas.

O avanço dessa população nas ruas causou reclamações na Região Centro-Sul, o que resultou em atitudes polêmicas, como a da Associação de Moradores de Lourdes (Amalou), de usar esguichos na Praça Marília de Dirceu para afastar mendigos.

O prefeito Marcio Lacerda chegou a afirmar em entrevistas que eles estavam invadindo a cidade. Soraya Romina disse que a prefeitura não percebeu o aumento “descontrolado” dos mendigos. “A gente vem notando aumento pela demanda dos serviços, porque aqui a política é qualificada. Temos os restaurantes populares, abrigos e serviços de saúde”, afirmou.

RESPOSTA COM FRANQUEZA

'Não somos moradores de rua. Moramos debaixo de viadutos, nas calçadas. Melhor seria chamar a gente de sem-moradia', Robson da Silva (E) (TÚLIO SANTOS/EM/D.A PRESS)
"Não somos moradores de rua. Moramos debaixo de viadutos, nas calçadas. Melhor seria chamar a gente de sem-moradia", Robson da Silva (E)
Para a comunidade formada sob o viaduto da Floresta, o censo ajudará a esclarecer muitas dúvidas sobre essa escolha de vida. “Para começar, precisamos dizer que não somos moradores de rua. Afinal, ninguém mora na rua, senão o carro atropela. Moramos debaixo de viadutos, de marquise, nas calçadas. Melhor seria chamar a gente de sem-moradia”, define Robson da Silva, respeitado como líder do grupo de cerca de 15 pessoas acomodadas em um sofá velho e em cinco colchões de solteiro e de casal, dispostos lado a lado.

A maioria diz que não oferecerá resistência aos pesquisadores. “Respondo na maior franqueza”, afirma o montador mecânico Felipe, de 32 anos, que admite ser usuário de crack e exagera dizendo que mais da metade da população da capital já se tornou moradora de rua: “É gente demais da conta! E tem muito migrante da Bahia, de São Paulo”. Ele revela ter lido em um jornal que quase a metade dos moradores de rua é de dependentes químicos: “As drogas estão acabando com a vida das pessoas”.

Para José, de 41, usuário de crack também, BH não tem mais de 2 mil moradores de rua. Ele e dois colegas, além de uma mulher, faziam uso da pedra ontem em frente à Praça dos Peixes, na Lagoinha. “Passa dos 5, 6 mil mendigos”, arrisca o outro, enrolando um cigarro de maconha. Prefere não ser identificado. “No momento, pode ser interessante (responder ao questionário)”, diz o outro.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

[SP] - MANIFESTO DOS TRABALHADORES SOCIAIS CONTRA AS AÇÕES HIGIENISTAS E VIOLENTAS CONTRA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA DE SÃO PAULO Por COLETIVO AUTONOMO DOS TRABALHADORES SOCIAIS 16/10/2013 às 16:25


Dia - Quinta 24 de outubro as 13 horas Local - Câmara de São Paulo
A leitura ocorrerá na plenária na Câmara de São Paulo, no qual será exposta a posição dos trabalhadores em relação as ações higienistas no centro de São Paulo. Este evento ocorrerá dia 24 de Outubro, as 13 horas, Subsolo ? Sala Sergio Vieira de Melo.
Carta
Este texto não tem caráter partidário, não segue diretrizes de nenhum grupo ou organização previamente estabelecida, pelo contrario, trata-se de um manifesto de trabalhadores sociais após uma semana de muita importância para nós, Trabalhadores da área Social. Nós que assinamos esta carta estamos movidos por interesses coletivos que atingem nosso trabalho e, principalmente, os usuários dos serviços em que atuamos. Queremos falar dos fatos ocorridos nos últimos meses e que se agudizaram neste mês.
Não é segredo para ninguém que a População em Situação de Rua é encarada pelo poder público, e por grande parte da sociedade, como um problema e não como consequência das sociedades capitalistas desiguais e desumanas, em que a miséria é a substância básica para a preservação da classe dominante: reacionária, conservadora e opressora. Representada em última instância pelo Estado, em nosso caso a Prefeitura de São Paulo, regida pelo então Prefeito Fernando Haddad.
Esta semana foram iniciadas ações ''integradas'' entre as Secretarias: de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), de Saúde (SMS), de Habitação (SMH), Secretaria de Segurança Publica (SMS) e, vejam vocês, a Secretaria de Diretos Humanos (SMDH). Suas ações remontam cenas da Gestão Kassab, Serra, Maluf, Pitta e afins, expulsando a população de rua de seu único lugar. O incomodo aos olhos do Estado e da ''Sociedade'' é certo, isso direciona nosso pensamento para as estratégias que foram tomadas: Como trabalhadores sabemos muito bem a condição a qual somos expostos todos os dias, além dos baixos salários e condições precárias, somos submetidos a tratar os usuários a base de pernoite, comida (as bocas de rango) e agora as internações.
Estamos cansados de oferecer políticas pré-históricas que não garantem o direito a população, apenas a expelem do convívio social. Estas ações, não deveriam ser chamadas de políticas públicas, pois são apenas iniciativas de contenção de demanda, tirando de nossos companheiros de rua, suas escolhas autônomas, seu direito de ir e vir e o direito de uso da cidade. A eles, restam apenas o descaso do Estado e a mão violenta da polícia, em outras palavras a negação do DIREITO A CIDADE.
Frente a esse cenário, os gestores públicos montam um verdadeiro exército de funcionários no Centro de São Paulo com o discurso de: 1. Recolher os ''entulhos'' deixados na praça, 2. Preservar a segurança da Assistência Social, 3. Garantir o Direito de Ir e Vir, 4. Oferecer alternativas a essa população. Vejam vocês, o poder público chama de entulho os bens que a população, com menor poder de consumo, consegue
para sobreviver à rua. Dizer que nós, Trabalhadores da Assistência, sentimos insegurança ou medo é uma grande mentira, pois mesmo com a falta de políticas públicas de qualidade somos bem recebidos graças às iniciativas individuais de trabalhadores que fazem mais do que podem para garantir a essas pessoas o mínimo de dignidade. A garantia do Direito de ir e vir é utilizada como principio para exclusão e a agressão a essa população, que tem este mesmo direto negado cotidianamente. Por fim, o argumento de oferecer alternativas, nos deixa perplexos. Esse mesmo poder público ofereceu no dia da ação: auxilio aluguel, vagas para internação e até mesmo moradia a essa população, isto por que a grande mídia estava lá, pois nos dias comuns sabemos bem o que podemos oferecer: uma passagem direto para um albergue que mais parece um depósito de gente, em condições insalubres.
Concentramos-nos a isso para dimensionar o que passam os cidadãos que vivem na/da rua. Nós que realmente estamos na ponta, que no dia a dia somos acolhidos pelo povo de rua e que muitas vezes dividem conosco suas alegrias e tristezas, e que emalguns serviços ajudam de maneira ativa para o andamento coletivo dos projetos, sabemos o que passamos.
O poder público, instância máxima responsável por essa situação, encarou de forma violenta colocando a Guarda Civil, pronta para qualquer intervenção expulsar a população de rua da Praça da Sé, do Largo São Francisco, da Bresser, Santa Cecilia, Alcântara Machado e outros espaços da região Central. O discurso foi à atitude violenta da população, o tráfico de drogas, e até mesmo apelaram para exploração sexual de crianças e adolescentes, como no caso da Sé, isso para justificar a ação criminosa da Prefeitura orquestrada por Fernando Haddad, Luciana Temer (SMADS), José Fillipi (Saúde), Rogério Sotilli (SMDH), Roberto Porto (SMSU) e José Floriano de Azevedo (SMH).
Muitos de nós ao defendermos a população de rua sofremos inúmeras perseguições, pois alguns acreditam que o salário deveria comprar nossa consciência, ou então somos atacados com discursos do tipo ''a prefeitura paga seu salário'' como se com este chavão tivéssemos que nos submetermos às soluções mais higienista e desumanas. Entendemos que a verba pública vem do povo e não do bolso do prefeito ou dos secretários. Sendo assim, o povo é quem nos paga e é por eles que lutamos e por essa defesa somos ameaçados por SAS, CREAS ou CREAS POP.
Um governo que nasce de uma história de lutas sociais e criticas ao coronelismo e opressão de patrões não pode ameaçar seus trabalhadores. Como podem perseguir e ameaçar a quem pensa de forma critica? Ou o governo trabalha horizontalmente com o povo de rua ou então continuará oferecendo mais do mesmo.
Dizemos que a ação é criminosa, pois coloca a sociedade contra ela mesma, nos fazendo acreditar que as pessoas em situação de rua não são vitimas, mas criminosos que devem ser tratados como tal, criminalizando a miséria e excluindo cidadãos.
Por isso, nos manifestamos para que não falem em nosso nome, somos os trabalhadores e nós falaremos por nós! O governo Haddad utiliza um discurso humanista roubado de nós, mas suas práticas não correspondem com o que falam. Eles só querem a limpeza da cidade, o lucro dos empresários e a manutenção da pobreza. A articulação Intersetorial só existe quando os maiores interessados são as elites.
Por isso nos posicionamos! Qualquer ação sobre a população em situação de rua, nós trabalhadores temos de participar ativamente do planejamento, deixando claro que não participaremos de ações higienistas e repressivas. Que a democracia seja realmente para todos e não para alguns, pois o Prefeito e Secretários estão agindo de forma perversa, antidemocrática e ditatorial. Não é só um movimento que representa a população de rua, nós trabalhadores sociais, estamos juntos, atuamos na ponta e devemos ser respeitados!
Os trabalhadores sociais e a População de Rua devem ser consultados sobre ações e políticas. Sem participação popular que política teremos? Queremos participação efetiva, pois estamos cansados de discutir e propor, mas no ato da efetivação da política nossas opiniões serem ignoradas.
Estamos em Luta por:
POLITICAS PUBLICAS DE QUALIDADE, DESISTITUCIONALIZADAS.
DIALOGO COM OS AMPLOS SETORES REPRESENTANTES DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA. ALÉM DO MNPR.
CRIAÇÃO DE PLANO DE AÇÃO DIALOGADO COM OS TRABALHADORES DA BASE.
ABERTURA PARA O PLANEJAMENTO DE AÇÕES SECRETARIAIS COM REPRESENTAÇÃO DE TRABALHADORES.
RESPEITO DEMOCRATICO E SEM PERSEGUIÇÔES AOS TRABALHADORES POR PARTE DE SUPERVISORES E PESSOAS LIGADAS A SECRETÁRIAS.
ASSINAM O MANIFESTO:
COLETIVO AUTONOMO DOS TRABALHADORES SOCIAIS

Precariado: o trabalho em crise

19.10.2013

Imigrantes e jovens trabalhadores com empregos temporários, mal remunerados e sem os direitos da geração dos seus pais constituem um novo ator político estudado no Brasil e no exterior. Ainda muito discutido por pesquisadores, o conceito de ‘precariado’ tenta dar conta das transformações econômicas ao longo das últimas décadas e estaria na origem das manifestações que explodiram na Europa e nos EUA a partir de 2008 e no Brasil este ano

Por Leonardo Cazes

Imigrantes e membros de minorias, jovens com ensino superior frustrados e sem expectativas profissionais, filhos de mineiros, metalúrgicos, estivadores e outras profissões típicas do capitalismo industrial. Tão diferentes entre si, estes são os três principais grupos que, na concepção do economista britânico Guy Standing, compõem o precariado. Autor do livro “Precariado: a nova classe perigosa” (Autêntica), recém-lançado no Brasil, Standing aponta que todos vivem uma experiência de insegurança e falta de identidade baseada no trabalho: os imigrantes pela falta de direitos e renda estável; os recém-formados pela falta de perspectiva de futuro após descobrirem que o alto preço pago pelo diploma não tem o retorno esperado após a faculdade; e os filhos da antiga classe trabalhadora que, sem a opção de seguir as carreiras dos pais, ocupam postos de menor status socioeconômico.

O economista localiza o surgimento do precariado — classe que, frisa ele, está presente em todos os continentes — na década de 1970, com a emergência do neoliberalismo e a adoção, nos anos 1980, das políticas de flexibilização do mercado de trabalho, que abrangiam o salário, o vínculo empregatício e a habilidade dos trabalhadores, de forma que esta fosse ajustada de acordo com as necessidades. Na prática, tratava-se do desmonte das estruturas de proteção social que tinham sido construídas na Europa e nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial, pilares da cidadania fordista e do Estado de bem-estar. Após a crise iniciada em 2008, o precariado, diz Standing, tem crescido ainda mais rápido.

— Não há números confiáveis sobre isso, mas minha aposta é que na Europa Ocidental, particularmente em países como Portugal, Espanha, Grécia e Itália, e no Japão e na Coreia do Sul, o precariado corresponde agora a mais de um terço da população adulta, enquanto antes da crise era um quarto. O sentimento de privação profunda vem crescendo, forçando mais pessoas a se olharem no espelho de manhã e ficarem com mais raiva em relação a sua condição. A espontaneidade dos protestos públicos atesta a energia que está nas ruas. Muito em breve, o establishment político vai ter que acordar e olhar para o precariado. Caso contrário, será varrido para fora da cena — afirma o economista, em entrevista por e-mail ao GLOBO.

Para Standing, o precariado seria “a nova classe perigosa” porque todos os grupos que o compõem rejeitam as forças políticas tradicionais e o que representam. Além disso, há um movimento progressista dentro da classe que deseja uma transformação mais radical da ordem econômica e política. Contudo, por haver um sentimento de frustração disseminado e na falta de um projeto de futuro, o precariado também seria alvo fácil de políticos populistas, neofascistas e xenófobos. Os filhos da velha classe trabalhadora seriam os mais sensíveis a esse tipo de discurso:

— O precariado representa a nova classe perigosa por duas razões. Em primeiro lugar, todos os seus membros rejeitam as velhas ideologias e os partidos políticos. Eles sabem que o neoliberalismo e o capital financeiro está contra eles, e eles sabem que os antigos social-democratas são “trabalhistas”, querendo amarrar os benefícios e os chamados direitos sociais ao desempenho do trabalho — afirma o economista, que vê uma disputa entre forças progressistas e conversadoras. — Em segundo lugar, há uma parte que é transformadora, na medida em que quer se tornar uma classe suficientemente unida para ser capaz de impor sua agenda no discurso político, a fim de abolir a si mesma, o precariado. Não querem apenas mais do bolo, mas sim um tipo diferente de torta, uma sociedade em que as pessoas podem seguir suas vidas em liberdade, ter acesso ao espaço público de qualidade, ter o controle de seu tempo e acesso a uma educação libertadora real, e não apenas uma preparação enquanto “capital humano”. Esta agenda pode ser utópica, mas é profundamente ameaçadora, seja no Brasil ou na Europa.

No entanto, o conceito do que seja o precariado ainda não está consolidado entre pesquisadores do trabalho. O sociólogo Ruy Braga, autor de “A política do precariado: do populismo à hegemonia lulista” (Boitempo), critica a definição do economista. O professor da USP discorda da ideia de que o grupo surgiu nos anos 1980. Pelo contrário, mesmo no auge do período de expansão fordista, após a Segunda Guerra, existia, nas margens, trabalhadores submetidos a condições precárias de trabalho e de vida. Segundo Braga, quem gozava da proteção do Estado de bem-estar social eram os brancos, adultos, nacionais, sindicalizados e qualificados, deixando de fora mulheres, negros e mestiços, e imigrantes com pouca ou nenhuma qualificação.

— A condição de precariedade não é um tributo do neoliberalismo. A condição de precariedade é tributo da relação de mercantilização do trabalho, ou seja, desde que haja salário, venda e compra da força de trabalho, existe a condição de precariedade, que pode ser mais ou menos saliente, importante e central, mas é algo que permanece. É uma representação muito idílica você achar que a institucionalização de direitos pode superar isso. Não tem a ver com a lógica da política, tem a ver com a lógica da economia, do movimento da economia — explica Braga.

O sociólogo identifica o precariado europeu com movimentos como os Indignados, na Espanha, e a Geração à Rasca, em Portugal, além de setores mais mobilizados na Itália e na Grécia, onde o desemprego entre a população entre 18 e 24 anos é altíssimo. Na sua opinião, os jovens não são massa de manobra para o discurso populista de direita, apesar disso ser uma possibilidade em alguns casos. Para o professor, eles estão na luta para que a União Europeia cumpra a promessa feita à geração dos seus pais, de crescimento econômico e proteção trabalhista, através de uma política de direitos sociais universais.

Braga aponta que a mutação no mundo do trabalho europeu moveu o precariado de periferia da relação salarial fordista para o centro.

— Esse proletariado precarizado acabou se colocando no centro da relação social em países como Espanha, Portugal, Itália, Grécia, a semiperiferia da Europa. Ainda não é o centro na Alemanha, França e Inglaterra. Mas em Alemanha, que é a grande guardiã da estabilidade monetária europeia e do neoliberalismo no continente, se você tirar da conta todos os empregos que pagam 400 euros, a taxa de desemprego é a mesma da Espanha. Ou seja, os trabalhadores que ganham esse salário, que têm um tipo de trabalho muito precário, são os que seguram a onda do desemprego. Mesmo na França ou na Alemanha, a periferia da relação salarial está se tornando o centro. E se aprofunda cada vez mais porque as políticas de austeridade rebaixam direitos e salários, o custo do valor da força de trabalho e aumenta a franja de trabalhadores precarizados, principalmente os mais jovens — explica o sociólogo.

Em seu livro finalista do Prêmio Jabuti 2013 na categoria Ciências Humanas, Braga faz uma história dos trabalhadores precarizados no Brasil, dos governos Vargas a Lula, e reconstrói sua relação com a política. Braga reconhece que, nos últimos dez anos, houve tendências progressistas, com o aumento da formalização do mercado de trabalho, que incluiu muitos trabalhadores na proteção trabalhista. A grande questão dos estudos do trabalho hoje, diz ele, são se a formalização já é suficiente para retirar o empregado de uma condição precária. O sociólogo argumenta que não e se apoia em números como o aumento da taxa de acidentes e da taxa de rotatividade. Segundo o professor, na última década, foram criados 2,1 milhões de empregos por ano, mas 94% pagam até um salário mínimo e meio.

— Eu discordo daqueles que acham que a legislação trabalhista no Brasil tem uma ampla cobertura, que encareça o trabalho, porque não há cláusula contra demissão imotivada e isso institucionaliza a rotatividade do trabalho. As empresas demitem e contratam o tempo todo. De 2009 para 2011, por exemplo, o número de meses que o trabalhador fica no emprego caiu de 18 para 16. Os acidentes de trabalho tiveram um aumento exponencial em dez anos, houve crescimento das terceirizações. São indícios claros de que o enorme contingente absorvido pelo mercado foi absorvido em condições reais precárias de trabalho, mesmo que não contratuais — aponta o professor da Unicamp.

Giovanni Alves, sociólogo e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Marília (SP), utiliza uma outra noção de precariado. Para ele, assim como para Braga, não se trata de uma classe social nova, como defende Standing, mas uma parcela do proletariado. Alves, entretanto, restringe o precariado a um grupo específico: jovens altamente escolarizados que acabam assumindo empregos subremunerados, em uma situação que se aproxima daquela vivida em muitos países europeus.

Alguns números corroboram a tese: o salário médio de quem estudou mais de 12 anos caiu, entre 2002 e 2011, 8%, já descontada a inflação, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad). Apesar do alto grau de instrução garantir melhores chances no mercado de trabalho, o chamado “prêmio” em comparação a quem estudou menos está caindo. Ter mais escolaridade é sempre melhor em termos médios, mas a diferença entre os mais qualificados e o resto da população era imensa na década de 1970 e bem menor atualmente.

— Não se deve confundir alta escolaridade com alta qualificação para inserção no mercado de trabalho. A reclamação dos empresários diz respeito a setores específicos onde se tem gargalos da formação profissional. No geral, apesar do aumento do rendimento médio do trabalho, os salários ainda são baixos, pelo menos para cobrir os anseios de consumo e os custos de reprodução social são relativamente altos: serviços públicos sucateados e serviços privados caros e de péssima qualidade caracterizam o Brasil hoje. O Brasil do neodesenvolvimentismo criou, de fato, muitos postos de trabalho, mas não significa emprego de qualidade capaz de significar a realização do sonho profissional dos muitos que saem ano após ano dos bancos universitários — afirma o professor, autor de “Dimensões da precarização do trabalho” (Editora Praxis).

Mesmo discordando sobre quem faria parte do precariado brasileiro contemporâneo, os dois sociólogos acreditam que essa massa de trabalhadores vive uma situação de frustração parecida com a dos europeus: um emprego ruim, sem perspectiva de futuro e sem enxergar formas de sair dessa situação. Para Braga, essa frustração pode se transformar em indignação. Alves vê uma multidão de jovens-adultos altamente escolarizados insatisfeitos socialmente e carentes de uma vida plena. Na sua opinião, o precariado é filho do neodesenvolvimentismo dos anos Lula e Dilma que agora exige mudanças sociais desse mesmo padrão de desenvolvimento.

— Não se trata de que a ascensão social pela educação não ocorreu, mas sim que a maior parte dos jovens começa a perceber que as expectativas contidas nas promessas da alta escolaridade não se realizaram e nem vão se realizar efetivamente nos termos do sonho salarial. Enfim, como diz a canção da Legião Urbana, “o futuro não é mais como era antigamente” — acredita Alves.